Madras Times - Moldávia se torna palco da guerra de desinformação russa dias antes de eleição

Moldávia se torna palco da guerra de desinformação russa dias antes de eleição
Moldávia se torna palco da guerra de desinformação russa dias antes de eleição / foto: ROMEO BOETZLE - AFP

Moldávia se torna palco da guerra de desinformação russa dias antes de eleição

Às vésperas das eleições legislativas, os usuários moldavos viram proliferar vídeos manipulados com IA e acusações infundadas contra a presidente Maia Sandu.

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Segundo vários analistas, o país, que faz fronteira com a Ucrânia, tornou-se o "campo de treinamento" de Moscou em sua guerra de desinformação na Europa.

A votação de domingo é decisiva para o futuro desta ex-república soviética de cerca de 2,5 milhões de habitantes, que obteve sua independência em 1991.

A campanha concentrou-se no debate entre aqueles que querem fortalecer os vínculos da Moldávia com a União Europeia, à qual é candidata, e os partidários de retornar à órbita russa.

A maioria das pesquisas dá vantagem ao partido pró-europeu de Sandu, no poder desde 2021.

Mas a presidente denuncia uma "interferência sem precedentes" do Kremlin nas eleições, e acusa a Rússia de "gastar centenas de milhões" de dólares para comprar votos e orquestrar campanhas de desinformação entre os eleitores.

Semanas antes das eleições, a presidente moldava tornou-se alvo de um vídeo deepfake —criado com Luma AI— no qual interpreta uma música de rap em russo que a apresenta como uma líder ineficaz.

Trata-se de um dos inúmeros conteúdos enganosos de uma campanha de desinformação conhecida como Operação Overload ou Matrioska (boneca russa), segundo o coletivo online Antibot4Navalny.

Outras acusações infundadas asseguram que ela sofre de esquizofrenia ou que seu partido "manipulou" as eleições.

No Telegram, entre as acusações difundidas em russo, encontra-se a ideia de que os líderes europeus querem usar Sandu para provocar uma guerra na Moldávia, impor uma ditadura e enviar os moldavos para lutar na Ucrânia.

- Contas falsas -

Diversas investigações apontam para um envolvimento russo nessas campanhas.

Antibot4Navalny compartilhou com a AFP diversas evidências de desinformação propagada por canais no Telegram alinhados com o Kremlin, antes de serem disseminadas por influenciadores pagos no TikTok e contas similares no X.

Algumas das mensagens em inglês no X imitam organizações de mídia estrangeiras como AFP e BBC, parecendo direcionadas a audiências internacionais, incluindo mais de um milhão de moldávios que vivem no exterior.

Nesta semana, a BBC publicou suas conclusões sobre uma rede secreta financiada pela Rússia que tenta perturbar as eleições.

Essa rede, vinculada ao político pró-russo fugitivo Ilan Shor, teria pago moldávios para disseminar propaganda pró-russa, gerando mensagens falsas vistas milhões de vezes, segundo o meio britânico.

Por outro lado, o jornal moldávio Ziarul de Garda revelou, no início do mês, que um grupo ligado a Shor coordenava centenas de atividades através de grupos secretos no Telegram para inundar o TikTok e o Facebook com propaganda anti-UE.

A investigação revelou que os ativistas foram treinados online por falantes de russo durante meses, e alguns posteriormente recrutados como trolls pagos por Moscou.

Especialistas acreditam que essas revelações são apenas uma amostra de uma rede mais ampla coordenada por Moscou, que tem a Moldávia e a Europa como alvos.

"A Moldávia tornou-se um campo de treinamento para a guerra de informação do Kremlin na Europa Oriental", opina Nicolae Tibrigan, pesquisador da academia romena de Bucareste.

Segundo os especialistas, essas campanhas de desinformação russas — também detectadas na Romênia, membro da UE e da Otan— buscam aproximar a Moldávia da Rússia e desestabilizar a UE.

"O objetivo não é apenas manipular votos, mas também erodir a confiança no processo democrático", afirma Corneliu Bjola, professor de diplomacia digital na Universidade de Oxford.

Um porta-voz da Meta declarou que o gigante tecnológico "monitora a situação".

"Interrompemos a maioria das atividades não autênticas identificadas nesses relatórios", assegurou em um e-mail enviado à AFP.

O TikTok, por sua vez, afirmou ter removido conteúdos e contas que infringem suas políticas, especialmente uma rede de pelo menos 6.790 contas que tentavam desacreditar o governo moldávio.

H.Anand--MT