

Sétimo dia de combates mortais na Síria apesar de apelos por cessar-fogo
Sunitas e beduínos entraram em confronto com drusos neste sábado(19) na cidade de Sweida, no sul da Síria, apesar dos apelos por um cessar-fogo, no sétimo dia de violência entre tribos locais que deixou 940 mortos, segundo uma ONG.
O governo sírio anunciou anteriormente o envio de suas forças à província de Sweida, de maioria drusa, e instou "todas as partes a respeitarem" o cessar-fogo declarado.
Em um bairro da cidade de Sweida, combatentes destas tribos, alguns mascarados, dispararam armas automáticas contra seus adversários, segundo imagens da AFP. Colunas de fumaça subiam sobre a capital da província de mesmo nome.
"Viemos aqui e vamos massacrar todos eles em suas casas", disse um dos combatentes, que se identificou como Abu Jasem, referindo-se aos drusos.
Conflitos entre tribos sunitas e beduínos, de um lado, e combatentes da minoria drusa, de outro, continuaram na região oeste da cidade e arredores, segundo correspondentes da AFP no local.
O presidente interino da Síria, Ahmed al-Sharaa, que assumiu o poder após derrubar Bashar al-Assad em dezembro, reafirmou seu compromisso com a proteção das minorias e destacou "o importante papel desempenhado pelos Estados Unidos, que confirmaram seu apoio à Síria".
O Ministério do Interior anunciou o envio de forças de segurança à província de Sweida "com o objetivo de proteger os civis e pôr fim ao caos".
Israel, que afirma querer defender os drusos, minoria esotérica nascida do islamismo xiita, tem se oposto até agora à presença dessas forças na região.
- 80.000 deslocados -
O governo sírio, alegando querer restaurar a ordem, enviou suas forças na terça-feira a Sweida, até então controlada por combatentes drusos, mas as retirou após ameaças de Israel.
Israel bombardeou vários alvos governamentais em Damasco e ameaçou intensificar seus ataques. Ao anunciar a retirada, a Al Sharaa declarou que queria evitar uma "guerra aberta".
Os Estados Unidos anunciaram um acordo de cessar-fogo entre a Síria e Israel na noite de sexta-feira, pedindo aos "drusos, beduínos e sunitas que deponham as armas".
A União Europeia saudou o cessar-fogo e disse estar "consternada" com a violência, apelando às autoridades sírias para que protejam "todos os sírios sem distinção".
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), testemunhas e grupos drusos acusaram as forças governamentais destacadas em Sweida de lutar ao lado dos beduínos e cometer abusos.
Os confrontos deixaram 940 mortos desde 13 de julho na província, incluindo 588 drusos — 326 combatentes e 262 civis —, 312 membros das forças governamentais e 21 beduínos sunitas, segundo o OSDH.
Quase 80 mil pessoas foram deslocadas pela violência, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM).
- "Cova coletiva" -
Omar Obeid, médico do hospital público de Sweida, o único ainda em funcionamento na cidade, de segunda a sexta-feira, disse que "mais de 400 corpos" chegaram, incluindo crianças e idosos.
"Isto não é mais um hospital, é uma cova coletiva", disse outro funcionário do hospital municipal, que não tem água nem eletricidade e as comunicações estão cortadas.
Esses confrontos representam um dos principais desafios para o novo governo sírio liderado por Al-Sharaa em um país marcado por quase 14 anos de guerra civil.
O novo líder prometeu proteger as minorias neste país diverso, mas esses incidentes, juntamente com os assassinatos, meses antes, de seguidores alauítas (o ramo do islamismo ao qual Assad pertencia), minam esse compromisso.
A comunidade drusa da Síria, com grande concentração em Sweida, contava com cerca de 700.000 pessoas antes do início da guerra civil em 2011. Essa minoria também está presente no Líbano, em Israel e nas Colinas de Golã da Síria, ocupadas desde 1967.
H.Kaur--MT