

Fundação com apoio dos EUA fecha temporariamente os centros de ajuda em Gaza
A fundação apoiada pelos EUA e por Israel que opera locais de ajuda em Gaza fechou suas instalações nesta quarta-feira (4), enquanto o Exército israelense advertiu que as estradas que levam aos centros de distribuição eram “zonas de combate”.
O anúncio da Fundação Humanitária de Gaza (GHF) foi seguido de uma série de incidentes mortais perto dos locais de distribuição que opera, o que provocou uma forte condenação das Nações Unidas.
Um bombardeio israelense nesta quarta-feira matou pelo menos 16 pessoas em Gaza, incluindo 12 em um único ataque a uma tenda que abrigava pessoas desabrigadas, informou a agência de defesa civil.
Um dia antes, 27 pessoas morreram quando as tropas israelenses abriram fogo perto de um local operado pela GHF no sul de Gaza. O Exército disse que o incidente estava sendo investigado.
Nesta quarta-feira, o governo britânico pediu uma “investigação imediata e independente”, fazendo eco a um pedido semelhante do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres.
O subsecretário britânico para o Oriente Médio, Hamish Falconer, considerou “profundamente perturbadoras” as mortes de palestinos, que “nunca deveriam correr o risco de serem mortos ou feridos simplesmente por se alimentarem”, e classificou as novas medidas e ações de Israel como “desumanas”.
O chefe humanitário da ONU, Tom Fletcher, disse que “esses não são incidentes isolados” e pediu responsabilidade.
Recentemente, Israel suspendeu seu bloqueio a Gaza, mas a ONU afirma que toda a população do território continua correndo o risco de passar fome.
- Voto da ONU -
"Os centros de distribuição permanecerão fechados para reformas, reorganização e melhoria da eficiência", afirmou a GHF, uma organização com financiamento opaco. Depois, indicaram que retomariam as operações na quinta-feira.
O Exército israelense alertou contra viajar "pelas estradas que levam aos centros de distribuição, consideradas por ele como zonas de combate".
Na terça-feira, 27 pessoas que aguardavam para receber ajuda perto de uma rotatória em Al Alam, perto de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, morreram quando soldados israelenses abriram fogo "contra milhares de civis", segundo a Defesa Civil de Gaza, o organismo de emergência do território.
O Exército israelense afirmou que "os soldados deram tiros de advertência contra suspeitos e anunciou uma investigação.
No fim de semana, 31 pessoas morreram no mesmo local e em circunstâncias similares, segundo a Defesa Civil de Gaza, um território governado pelo Hamas.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou as perdas "inconcebíveis" de vidas humanas, e o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, denunciou "crimes de guerra".
A ONU e várias ONGs se recusam a trabalhar com esta organização porque desconfiam de seus protocolos de operação e de sua neutralidade. E temem que tenha sido criada para servir aos objetivos militares de Israel.
O Conselho de Segurança da ONU votará nesta quarta-feira um projeto de resolução para pedir um cessar-fogo e acesso humanitário a Gaza, mas o texto pode ser vetado pelos Estados Unidos.
- "Tiros contra a multidão" -
O marido e os filhos de Rim al Ahkras, uma mulher que faleceu durante uma distribuição de alimentos, choravam nesta quarta-feira por sua perda.
"Como posso te deixar partir, mamãe?", questionava seu filho Zein, abraçando o corpo, envolvido em um sudário branco.
Mohamed al Shaer, 44 anos, que compareceu ao local da distribuição, contou à AFP que "um helicóptero e vários drones começaram a atirar contra a multidão para evitar que se aproximassem dos tanques, o que deixou feridos e mortos".
Para fornecer assistência humanitária ao pequeno território localizado entre Israel, Egito e o Mediterrâneo, a chamada Flotilha pela Liberdade partiu no domingo da Itália em direção a Gaza, com a presença, entre outros, da ativista sueca Greta Thunberg.
O ataque sem precedentes do Hamas em 7 de outubro de 2023 causou as mortes de 1.218 pessoas em território israelense, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais.
Das 251 pessoas sequestradas durante o ataque, 57 continuam em cativeiro em Gaza, das quais pelo menos 34 faleceram, segundo as autoridades israelenses.
A campanha militar israelense de retaliação deixou mais de 54.600 mortos, principalmente civis, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza, considerados confiáveis pela ONU.
V.Chauhan--MT