

Hospital de Gaza diz que 21 crianças morreram de desnutrição e fome em 72 horas
Um hospital da Faixa de Gaza afirmou, nesta terça-feira (22), que 21 crianças morreram de desnutrição e fome nos últimos três dias no território palestino, onde Israel expande suas operações militares contra o Hamas, apesar dos múltiplos apelos internacionais para pôr fim à guerra.
Os 2,4 milhões de habitantes de Gaza enfrentam uma grave escassez de alimentos e itens de necessidade básica, enquanto os centros de distribuição de ajuda humanitária são regularmente atacados.
Nesta terça, a ONU acusou o Exército israelense de matar mais 1.000 pessoas que esperavam por ajuda desde o fim de maio.
"Até 21 de julho, registramos 1.054 pessoas mortas em Gaza enquanto tentavam obter alimentos; 766 delas morreram perto das instalações da GHF [Fundação Humanitária de Gaza] e 288 perto de comboios de ajuda da ONU e de outras organizações humanitárias", disse o Alto Comissariado para os Direitos Humanos à AFP.
"Vinte e uma crianças morreram devido à desnutrição e fome em diferentes áreas da Faixa de Gaza. As mortes foram registradas nos hospitais Al-Shifa, na Cidade de Gaza, no hospital dos Mártires de Al-Aqsa, em Deir al Balah, e no hospital Naser em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, durante as últimas 72 horas", declarou em uma entrevista coletiva Mohamed Abu Salmiya, diretor do hospital Al-Shifa, na Cidade de Gaza.
No hospital Naser, imagens da AFP mostraram pais chorando sobre o corpo esquelético do filho Abdul Jawad al Ghalban, de 14 anos, que morreu de fome e acabara de ser envolto em um saco branco para cadáveres.
Nesta terça-feira, a Defesa Civil anunciou que ataques israelenses mataram 15 pessoas, 13 delas no campo de Al-Shati, no norte de Gaza, que abriga milhares de deslocados.
Raed Bakr, de 30 anos, pai de três filhos, descreveu à AFP uma "grande explosão" que destruiu sua barraca durante a noite.
"Achei que estava em um pesadelo. Fogo, poeira, fumaça e restos humanos voando pelo ar, destroços por toda parte. As crianças gritavam", disse Bakr, cuja esposa perdeu a vida no conflito no ano passado.
- "Noite de terror" -
Muhannad Thabet, de 33 anos, afirmou ter vivenciado "uma noite de terror" no campo, com "ataques aéreos e explosões constantes".
A Defesa Civil também informou nesta terça-feira a morte de duas pessoas em Deir el-Balah, no centro do território, onde Israel havia anunciado no dia anterior a expansão de suas operações e pediu a retirada da população do local.
Os militares israelenses declararam que seus soldados "identificaram disparos em sua direção, na área de Deir el-Balah, e responderam atacando a origem dos tiros.
Segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha), entre 50.000 e 80.000 pessoas estavam na área naquele momento, e quase 88% de Gaza está agora sob ordem de evacuação israelense ou incluída em uma zona militarizada israelense.
O patriarca latino de Jerusalém, Pierbattista Pizzaballa, disse nesta terça-feira que a situação humanitária na Faixa de Gaza é "moralmente inaceitável" após visitar o território palestino.
"Vimos homens esperando sob o sol durante horas, com a esperança de conseguir uma simples refeição", acrescentou.
O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, alertou para o risco "extremamente alto" de graves violações do direito internacional após a expansão das operações israelenses.
- "Situação terrível" -
Na noite de segunda-feira, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, anunciou que soldados israelenses haviam invadido a residência dos funcionários da agência da ONU na região de Deir el-Balah.
Os militares forçaram "mulheres e crianças a abandonarem as instalações a pé", enquanto "funcionários do sexo masculino e seus familiares foram algemados, despidos, interrogados e mantidos sob a mira de armas", disse o dirigente.
Nesta terça, a França exigiu "que a imprensa livre e independente tenha acesso a Gaza para mostrar o que está acontecendo ali", onde mais de dois milhões de palestinos correm o risco de morrer de fome.
Entrevistado pela rádio pública France Inter sobre a situação de vários funcionários da AFP que trabalham em Gaza, o ministro das Relações Exteriores francês, François Barrot, declarou que segundo a direção da agência, vários colaboradores passam por uma "situação terrível".
M.Shukla--MT