

Agências da ONU pedem que Gaza seja 'inundada' com ajuda alimentar
Agências da ONU pediram nesta terça-feira (29) que a Faixa de Gaza seja "inundada" com ajuda alimentar, para evitar "a fome em massa" no território palestino, onde mais de 60 mil pessoas já morreram nos quase 22 meses de conflito entre Israel e o Hamas, segundo o governo local.
Israel anunciou tréguas parciais durante o dia e autorizou a entrada de caminhões com ajuda, mas organizações internacionais consideram que essas permissões são insuficientes diante das necessidades da população, submetida a um bloqueio por quase dois meses. "A rede de ajuda deve se tornar um oceano", disse o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Os lançamentos de suprimentos se multiplicam, realizados por Jordânia, Emirados Árabes e Reino Unido, enquanto a França anunciou que vai lançar 40 toneladas de ajuda sobre a Faixa de Gaza a partir da próxima sexta-feira.
Em uma praia próxima a Deir el-Balah, palestinos tiveram que se jogar no mar para tentar salvar alguma coisa, uma vez que os paraquedas com ajuda caíram na água. "Tivemos que nadar para buscar alimento para os nossos filhos. A maior parte da comida que caiu no mar foi perdida", contou à AFP Ismail al-Aqraa, um chefe de família.
Apesar da pausa nos combates, a Defesa Civil relatou hoje 30 mortos, incluindo 12 crianças, em bombardeios israelenses durante a noite no campo de refugiados de Nuseirat. O Exército de Israel afirmou ter atacado "alvos terroristas" na região.
- Crianças mortas -
"Precisamos inundar Gaza com ajuda alimentar em larga escala, de forma imediata e sem obstáculos, e mantê-la todos os dias, para evitar a fome em massa", pediu a diretora do Programa Mundial de Alimentos, Cindy McCain, em declaração conjunta com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Organização para Alimentação e Agricultura (FAO).
A Classificação Integrada de Segurança Alimentar (IPC) - uma autoridade neste assunto que conta com o apoio da ONU e várias organizações humanitárias - afirmou que a crise na Faixa de Gaza atingiu "um ponto alarmante e mortal".
"Mais de 20 mil crianças foram atendidas por desnutrição aguda entre abril e meados de julho" e os hospitais relataram pelo menos 16 mortes de crianças menores de 5 anos desde 17 de julho, acrescenta o relatório desse organismo.
O Programa Mundial de Alimentos da ONU ressaltou que a situação lembra a fome observada na Etiópia e em Biafra, Nigéria, no século XX. Já o presidente turco, Recep Erdogan, acusou Israel de "matar de fome" a população da Faixa de Gaza, e disse que as imagens do território palestino são "mais brutais" que as dos campos nazistas.
Israel, por sua vez, acusou o Hamas de falsificar os balanços e saquear a ajuda alimentar. "Já permitimos que entrem na Faixa de Gaza diariamente quantidades significativas de ajuda humanitária. Infelizmente, o Hamas roubou a ajuda destinada à população, muitas vezes disparando contra palestinos", afirmou o premier do país, Benjamin Netanyahu.
Segundo Israel, mais de 200 caminhões de ajuda foram distribuídos ontem pela ONU e por agências humanitárias. Outros 260 foram autorizados a cruzar para a Faixa de Gaza, quatro tanques da ONU levaram combustível e 20 paletes de ajuda foram lançados de aviões jordanianos e emiradenses, segundo a mesma fonte.
A ONU estima, no entanto, que seriam necessários de 500 a 600 caminhões por dia para atender às necessidades dos mais de 2 milhões de habitantes da Faixa de Gaza.
- Mais de 60 mil mortos -
Israel, que controla todos os acessos à Faixa de Gaza, impôs em março um bloqueio total à entrada de ajuda humanitária, suspenso quase dois meses depois. Diante da forte pressão internacional, anunciou no domingo uma pausa nas hostilidades durante o dia e em algumas áreas, sem informar a duração.
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, disse que seu país vai reconhecer o Estado da Palestina em setembro, a menos que Israel tome "medidas substanciais" na Faixa de Gaza, incluindo um acordo de cessar-fogo. Israel considerou esse anúncio uma "recompensa para o Hamas".
O ministro das Relações Exteriores israelense, Gideon Saar, chamou de "campanha distorcida" as mensagens da comunidade internacional por um cessar-fogo no território palestino.
J.Khan--MT