Madras Times - 'Um Simples Acidente', do iraniano Jafar Panahi, vence Palma de Ouro em Cannes

'Um Simples Acidente', do iraniano Jafar Panahi, vence Palma de Ouro em Cannes
'Um Simples Acidente', do iraniano Jafar Panahi, vence Palma de Ouro em Cannes / foto: Valery HACHE - AFP

'Um Simples Acidente', do iraniano Jafar Panahi, vence Palma de Ouro em Cannes

A 78ª edição do Festival de Cannes concedeu neste sábado (24) a Palma de Ouro ao cineasta dissidente iraniano Jafar Panahi com "Um Simples Acidente", em uma cerimônia carregada de política na qual o filme brasileiro "O Agente Secreto", de Kleber Mendonça Filho, levou os prêmios de melhor direção e ator.

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Após uma jornada de certo nervosismo por um apagão na cidade, devido a uma sabotagem da rede elétrica, a cerimônia transcorreu com normalidade, com uma sala entregue à humildade e firmeza de Panahi, um diretor que foi perseguido, torturado e preso pelo governo de seu país.

"Um Simples Acidente", filmado na clandestinidade, narra o encontro fortuito de um homem que acredita reconhecer seu torturador nas ruas de Teerã.

"Acho que este é o momento de pedir a todos os iranianos, no Irã ou no mundo: vamos deixar de lado [...] todos os problemas, todas as diferenças, o mais importante agora é a liberdade de nosso país", disse o cineasta de 64 anos, ao receber o prêmio das mãos da atriz Cate Blanchett.

"Ninguém tem o direito de lhe dizer o que você tem ou não tem que fazer", continuou.

Preso duas vezes em seu país e perseguido pelo governo, Panahi finalmente pôde comparecer a Cannes pela primeira vez em 15 anos para receber o prêmio, junto com todos os seus atores e atrizes.

Panahi disse que voltará neste domingo a seu país. Perguntado se temia o retorno após levar o prêmio máximo por um filme contrário ao poder dos aiatolás e filmado de forma clandestina, o cineasta respondeu: "Absolutamente não. Amanhã vamos partir."

- Mais uma vitória brasileira -

O longa-metragem brasileiro "O Agente Secreto", um thriller político ambientado em 1977, ficou com os prêmios de melhor ator e direção, que foram recebidos pelo próprio diretor Kleber Mendonça Filho.

O ator Wagner Moura, que interpreta um professor que enfrentou a corrupção em sua cidade, Recife, e para onde retorna apesar de todos os perigos, esteve ausente na cerimônia.

Aos 56 anos, Kleber Mendonça Filho faz parte do seleto círculo de cineastas cuja presença é habitual em Cannes, com um cinema que que se baseia tanto no realismo mágico quanto na militância política.

"O Agente Secreto" é seu terceiro filme a competir em Cannes, depois de "Bacurau" em 2019 e "Aquarius" em 2016.

"Acho que Cannes é simplesmente a catedral do cinema neste planeta", declarou o diretor.

"Hoje é dia [...] de curtir a felicidade de viver em um país que tem gigantes do porte de @kmendoncafilho [Kleber Mendonça Filho] e Wagner Moura", escreveu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na rede social X.

Aos 48 anos, Moura é um dos rostos mais conhecidos do cinema brasileiro em todo o mundo por seu papel como capitão Nascimento no aclamado "Tropa de Elite", e participações em produções internacionais como a série "Narcos" e os filmes "Guerra Civil" e "Elysium".

Com mais esses dois prêmios em Cannes, o cinema brasileiro vive um ano de glória, no qual também conquistou o histórico Oscar de melhor filme internacional com "Ainda Estou Aqui", de Walter Salles.

- Estreante francesa leva prêmio de melhor atriz -

Em um festival que deu amplo espaço às protagonistas femininas, a francesa Nadia Melliti, de apenas 23 anos, recebeu o prêmio de melhor interpretação feminina em "La petite dernière", da diretora Hafsia Herzi, com seu papel de estreia na sétima arte.

Estudante de Educação Física e descoberta em um teste de elenco sem atores profissionais, ela interpreta Fatima, uma jovem muçulmana de 17 anos dos subúrbios de Paris que descobre pouco a pouco sua atração por mulheres.

Outros destaques foram "Sentimental Value", do norueguês Joachim Trier, que conta a história de um pai cineasta que busca o reencontro com suas filhas e ficou com Grand Prix, e também "Sirat", do espanhol Óliver Laxe, e "Sound of Falling", da alemã Mascha Schilinski, que dividiram a premiação do júri.

G.Mittal--MT